29.11.09

Pequenos proprietários reclamam dos valores das indenizações

Na vila Atalho, no município de Brejo Santo (CE), a escola da comunidade está em ruínas. Várias pessoas já abandonaram os vales férteis da região. A razão da partida é o processo de desapropriações que teve início há três anos. No local onde morava cerca de 50 famílias, passará um dos canais da Transposição. Deixar a casa onde viveram durante toda a vida tem sido difícil, no entanto o que mais preocupa os moradores são os valores da indenização.


É o que tem acontecido com os moradores da vila, perto do Açude do Atalho. Lá, o processo de indenizações foi rápido. Com medo de contrariarem as propostas do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS) e ficarem sem dinheiro, de pronto os valores sugeridos foram aceitos pelos donos das terras. Mas passado o temor inicial, o arrependimento pelas baixas indenizações tem crescido acompanhado de muita preocupação. Seu Cícero, na comunidade do Atalho, que até hoje tem uma boa renda, principalmente com feijão irrigado, sintetiza o sentimento dos que tem recebido as indenizações: "minha terra é o canto mais rico que há, mas para o governo não é".

Para a terra produtiva do vale, que é usada para plantio de feijão irrigado, não foi pago menos que R$ 300 por hectare. Em Jati, na vila São Francisco, que quando foi batizada, nem sonhava de ser "beneficiada" por um mega-projeto de mesmo nome, o DNOCS ofereceu R$ 100 por hectare de "terra de encosta", como eles chamam, embora seja terra produtiva.

Além dos baixos valores, a prática adotada pelo governo nas áreas, ajudou a criar falsas esperanças para muita gente. Recentemente várias famílias foram beneficiadas por um programa de revitalização, executado pelo Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (IDACE), que deu título de terra a várias famílias. Poucos meses depois, no entanto, o DNOCS chegou na região para negociar as propriedades que estão dentro do "poligonal da desapropriação" do projeto da Transposição. O motivo da regularização das terras ficou claro: acelerar o processo de desapropriação da transposição.
Para quem já recebeu as indenizações, o sentimento é de espera pela ordem de despejo. Como já foram indenizadas há 3 anos, algumas das famílias já gastaram o dinheiro recebido e agora não sabem para onde ir quando chegar a hora de partir. Outros investiram em novas terras na região, mas se deram conta que com a grande valorização das propriedades ocasionada pelas obras de transposição, o dinheiro recebido só será suficiente para comprar um terreno muito pequeno e sem garantia de acesso à água.

Para quem não sabe para onde ir, a agrovila que deve receber os desalojados pelas obras da Transposição é a esperança. Mas por enquanto, mesmo com a proximidade das obras, não há sinal de construção de casas. Já os grandes proprietários de terra no município de Mauriti não têm do que se queixar. Muitos deles viraram milionários com as indenizações das suas fazendas.

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