28.11.09

Perto de muita água nem sempre tudo é feliz...



Diferentemente da frase original de Guimarães Rosa em seu Grande Sertão: Veredas, foi o que sentimos no alto sertão da Paraíba.

De Russas(CE) a Cajazeiras (PB), novembro quase dezembro, o sertão ainda é verde e esbanja águas pelas barragens entre montanhas e açudes à beira da estrada. Dizer que falta água seria mentira. Falta, sim, distribuição justa e bom uso.

Residindo às margens da Barragem de Boqueirão, no povoado Engenheiro Ávidos criado pelo DNOCS, Dona Josefa não tem água encanada em casa. Não tem água nem energia, mesmo com os postes quase em cima de sua casa. Precisa caminhar cinco vezes ao dia, com um balde de vinte litros na cabeça, para trazer a água da Barragem.

Binha, como também é conhecida, traços indígenas, é pescadora. Há mais de duas décadas tira seu sustento do pescado. Sua crença é que com as águas da Transposição o acesso à água encanada fique mais fácil, possa ser bombeada com energia na casa e melhore a produção do pescado, que está fraco. Expectativa que é compartilhada pelo pescador João Bosco.

Uma esperança desconfiada, calejada por centenas de promessas não cumpridas, que, tal qual Tomé, "só acredita vendo".

Uma esperança que é desconfiada porque alimentada por uma completa desinformação. Pois, mesmo sendo um dos locais a serem beneficiados com a Transposição, a população de Engenheiro Ávidos não sabe se precisará sair de suas casas, quanto receberá de indenização, quando as obras começarão e quanto terão de pagar pela água que utilizarem.

Mas de uma coisa eles sabem: será uma água cara. Uma água cara e de certa forma inútil, já que as águas da Barragem de Boqueirão, se bem distribuídas, já seriam suficientes para o abastecimento da população.


Pretinho, apelido de Jossean Bezerra , é assentado em Acauã e militante da CPT na Diocese de Cajazeiras – PB. Em frente a uma das paredes da Barragem de Coremas conta que, em 1999, 213 pessoas do seu assentamento tiveram que ocupar a margem do Canal da Redenção, que leve água da Barragem de Coremas para as Várzeas de Souza, município de Aparecida – PB. Depois, ocuparam por três dias a casa de máquinas das comportas da Barragem. Só assim conquistaram o direito de usar a água do canal que corre por 11 km nas terras de Acauã. Esta foi a primeira “ocupação de água” que se tem notícia no país.


Em Bom Destino, perto da pequena cidade de São José da Lagoa Tapada (PB), o agricultor Ademilson termina a construção de uma “cisterna calçadão”, de 53 mil litros, no quintal de sua casa, para armazenar e utilizar a água das chuvas na sua lavoura. Mesmo morando a poucos quilômetros da imensa Barragem de Coremas, interligada com a de Mãe d´Água, ele também não tem acesso à água barrada. Se ele não tem acesso à água da Barragem hoje, quem garante que terá acesso às águas da Transposição?

Essa é a dúvida de Seu Manoel, do recém-criado Assentamento Nova Vida, nas Várzeas de Souza, município de Aparecida - PB. Depois de seis anos de ocupação, a terra foi conquistada. Ele se emociona ao falar dos companheiros que morreram no acampamento sem ver a vitória, alguns atropelados na BR 230.

Mas isso ainda não é o bastante. Seu Manoel e todas as famílias assentadas em Novo Destino precisam de água para fazer a terra produzir. A terra é boa, uma das mais férteis da região, mas o Governo Federal prefere investir 24 milhões em faraônicos projetos de irrigação particulares voltados para a exportação, ao invés de apostar na agricultura camponesa e na soberania alimentar da região.

Seu Manoel, num primeiro momento, não se posiciona contrário à Transposição. Afinal, como ser contrário a uma obra que promete acesso fácil à água?

Mas não demora muito para surgirem as primeiras dúvidas: essa água vai chegar mesmo às mãos do agricultor que trabalha na terra ou vai continuar a ser destinada para os projetos de irrigação das grandes empresas? Quem vai pagar por essa água, o povo? E quanto será? Sim, porque se for muito cara, o camponês não vai poder pagar. Vai ver a água passar e não vai poder usar, como o sedento que encontra água e não pode beber.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esta foto desta mulher é no Acampamento Nova Vida I,onde 141 famílias trabalham no roçado sem irrigação e assim mesmo produzem alimentos saldáveis sem prejudicar a saúde humana e animal. A água que temos é de três poços artesianos e 4 pipas de água para beber e cozinhar enquanto que no outro lado as empresas de agronegócio esbanjam água com seus mega pivôs isso é muito errado porque os "direitos não são inguais?"

Anônimo disse...

Esta foto desta mulher é no Acampamento Nova Vida I,onde 141 famílias trabalham no roçado sem irrigação e assim mesmo produzem alimentos saldáveis sem prejudicar a saúde humana e animal. A água que temos é de três poços artesianos e 4 pipas de água para beber e cozinhar enquanto que no outro lado as empresas de agronegócio esbanjam água com seus mega pivôs isso é muito errado porque os "direitos não são inguais?"